Adolescência na Netflix é aula de roteiro, direção e atuação.
- Dudu Guimarães
- 23 de mar.
- 3 min de leitura
São 4 episódios, parece pouco, mas é tempo suficiente para prender a sua atenção e te mergulhar à força em um mundo até então desconhecido de misoginia, machismo e violência psicológica. A história gira em torno do assassinato a facadas de uma adolescente. Até então essa história pode ser uma chamada rotineira de um programa policial, mas o principal suspeito desta morte bizarra é Jamie, seu colega de escola de apenas 13 anos. Assim, a discussão sobre a morte já não é mais sobre "quem fez o quê", mas qual foi a motivação pra isso acontecer. Começa então um trabalho de conversa entre policiais e os garotos da escola e a psicóloga com o jovem Jamie. Em torno disso, uma família que não sabe de nada do que se passa na vida online do filho.
Adolescência vai muito além de um drama qualquer. Stephen Graham, um dos autores da série, que também atua como o pai do Jamie, é um ator conhecido por papéis intensos, tipo em O Irlandês e Boardwalk Empire. Já Jack Thorne é um roteirista de peso, que escreveu obras como Enola Holmes e a peça Harry Potter e a Criança Amaldiçoada. Juntos, eles formaram uma dupla que quis mexer com a gente de verdade.

Mas o que motivou esses dois a fazer Adolescência? Tudo começou com o Stephen vendo notícias e casos de adolescentes cometendo crimes com facas no Reino Unido. Em uma entrevista pro Tudum, da Netflix, ele contou que viu reportagens de meninos matando meninas e sentiu que precisava entender o porquê. Não era só contar uma história, mas jogar luz numa questão que tá ali, na nossa cara, e a gente às vezes finge que não vê.
Junto a Jack eles decidiram não fazer um simples 'quem matou?', mas sim um 'por que isso aconteceu?'. A ideia era mostrar uma família normal, tipo a sua, e perguntar: 'E se fosse com a gente?'. Stephen disse que não queria clichês de violência doméstica ou gangues, mas algo mais real: como a internet, o bullying e essas pressões loucas dos dias de hoje podem bagunçar a cabeça de um adolescente. Eles queriam 'olhar nos olhos da raiva masculina', e entender o que tá por trás dessa onda de masculinidade tóxica que rola online, com influenciadores duvidosos e essa vibe 'incel'.

lmagina um grupo de caras que se sentem super frustrados porque acham que nunca vão conseguir namorar ou ter uma vida amorosa. "Incel" vem de "involuntary celibate", que em português significa "celibatário involuntário". É tipo: "Eu quero ter alguém, mas ninguém me quer, e eu culpo o mundo por isso." Esses caras se juntam na internet, em fóruns ou redes sociais, pra reclamar que as mulheres só gostam de "chads" (os caras populares, bonitões ou ricos) e que eles, os "incels", são deixados de lado.
Agora que você já conhece a história, aqui vai mais algumas curiosidades que vão te fascinar. Owen Cooper, o ator que dá vida a Jamie é o grande destaque da série. Com uma atuação brilhante ele carrega todo o drama de um garoto que é influenciado pela internet a cometer um crime. Cada episódio de Adolescência é filmado em um take só, sem cortes, o que já é um desafio enorme pra qualquer ator, ainda mais pra um novato de 14 anos. No episódio 3, por exemplo, Owen passa 50 minutos numa sala com a psicóloga numa tensão que não deixa você piscar. Ele vai de um garoto assustado pra alguém que explode em raiva, mostrando aquele lado sombrio do Jamie que foi influenciado por bullying e ideias tóxicas da internet.
Em Adolescência, cada um dos quatro episódios (que têm entre 45 e 50 minutos) foi feito em plano sequência. É como se fosse uma peça de teatro ao vivo: os atores entram em cena, a câmera segue eles, e tudo acontece em tempo real, sem chance de gritar "corta!" pra consertar um erro. Isso dá uma sensação de urgência e tensão que te puxa pra dentro da história — você sente que tá ali, vivendo o caos com os personagens.
O diretor, Philip Barantini, escolheu esse estilo porque queria que a série parecesse crua e real. Em uma entrevista pro Tudum da Netflix, ele disse: "Eu queria que o público sentisse o peso do que tá acontecendo com o Jamie e a família dele, sem escapatória. O plano-sequência te prende, não te deixa respirar, e era exatamente isso que a gente precisava pra essa história." Stephen Graham, que é cocriador e faz o pai do Jamie, completou: "É sobre mergulhar na emoção. Um corte pode aliviar a pressão, mas a vida não tem cortes, né? A gente queria mostrar isso."
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